Amigos, família e um senso de comunidade contribuem para a nossa felicidade, mas o local onde vivemos também pode ter um impacto enorme no nosso bem-estar. Mas, o que faz a cidade ser considerada uma “cidade feliz”?
Recentemente, pesquisadores do Institute for the Quality of Life (Instituto para a Qualidade de Vida, na tradução livre para o português) lançaram o Índice Cidade Feliz 2025, que monitorou 82 indicadores de felicidade em seis categorias principais: Cidadãos, Governança, Meio Ambiente, Economia, Saúde e Mobilidade.
O índice avaliou as políticas que contribuem para a qualidade de vida, bem como suas implementações e o impacto na população, e concluiu que nenhuma cidade deve ser considerada “a mais feliz”. Em vez disso, 31 cidades — que obtiveram pontuações altas em todas as métricas — foram selecionadas para compor a lista das “Cidades de Ouro”.
Para descobrir quais tipos de políticas e características fazem desses locais uma “cidade feliz”, a BBC conversou com moradores das cinco cidades que obtiveram as melhores notas ao redor do mundo.
1. Copenhague, Dinamarca
Com frequência, a Dinamarca aparece entre os países mais felizes do mundo, e talvez não seja uma surpresa que sua capital tenha recebido a nota geral mais alta do índice.
Copenhague se destaca especialmente na categoria Meio Ambiente — que avalia espaços verdes, sustentabilidade de gestão de resíduos — e na categoria Economia, que leva em conta fatores como PIB, salário médio, inovação e presença de empresas internacionais.
A cidade também pontua bem na categoria Cidadãos, que inclui recursos como bibliotecas e museus, além do engajamento da população e eventos.
Para Mari-Anne Daura, que mora em Copenhague, a vibrante cena gastronômica e cultural é o que faz com que ela ame a cidade.
“A cidade está sempre organizando eventos gratuitos, seja o Festival de Luzes de Copenhague, a Biblioteca Humana, o Copenhague Cooking ou as festas de rua. Eu valorizo muito o esforço da cidade para criar experiências para os moradores”, disse.
“Sempre tem algo para fazer e algo novo para experimentar. E foi isso que me fez escolher viver em Copenhague em vez de Estocolmo.”
Os moradores também destacam as formas alternativas e seguras de transporte em Copenhague. “Cerca de um terço ou mais da população anda de bicicleta, e a cidade tem sua faixa exclusiva para bicicletas que muitas pessoas usam para ir e voltar do trabalho. O sistema de metrô também funciona pontualmente”, disse Aaron Wertheimer, que mora no local.
Ele recomenda que os visitantes aluguem uma bicicleta e pedalem pela ponte Hans Christian Andersen. “Dá para ver a cidade inteira de lá, seus canais e sua arquitetura. Você ganha uma apreciação maior pela estética e pela atmosfera geral da cidade”.
Já Daura sugere pegar um transporte aquático para explorar a cidade por um outro ângulo. “Vá conferir a grande variedade de food trucks no Reffen [o maior mercado de comida de rua do norte da Europa]”, disse. “Para mim, nada representa mais Copenhague do que o Reffen.”
2. Zurique, Suíça
Com a segunda nota mais alta do índice, a maior cidade da Suíça pontua bem nas categorias Cidadãos e Governança, que avaliam a participação dos cidadãos nas políticas governamentais e o acesso a serviços digitais para melhorar a vida dos moradores.
Essa facilidade de viver torna o cotidiano muito menos estressante, segundo os moradores. “Como mãe de duas crianças, Zurique é o lugar perfeito para criar uma família”, afirma Raquel Matos Gonçalves, que ajuda pessoas a se mudarem para a Suíça por meio da sua empresa Expat You.
“Os principais problemas resolvidos aqui: segurança (as crianças podem ir para a escola sozinha desde muito novas); transporte público, que é sempre pontual; e limpeza. Zurique é excepcionalmente limpa e organizada”, destaca.
Ela também acrescenta: “Todos esses aspectos tornam o dia a dia mais fácil, previsível, porque eliminam o estresse que você normalmente teria em outras cidades”.
A cidade também tem regras e diretrizes bem claras. “O lema não oficial é: ‘Se não disser que pode, assuma que é não pode’”, diz a moradora Amelie Guiot, explicando que isso faz com que todos respeitem as leis e normas, mantendo a infraestrutura, como ruas e transporte público, limpa e organizada.
Ela também destaca a água potável gratuita que é fornecida pelas mais de mil fontes públicas da cidade.
Guiot recomenda aos visitantes ir até o Kunsthaus Zürich, o maior museu de arte da Suíça, embora a cidade tenha mais de 50 museus para todos os gostos. Nos dias ensolarados, todos vão para a beira do lago, onde ficam as casas de banho públicas.
“Minha favorita é a Frauenbad Stadthausquai, que é exclusiva para mulheres”, disse.
3. Cingapura
A cidade-Estado de Cingapura geralmente aparece bem posicionada em diferentes índices, principalmente como um dos países mais felizes da Ásia, graças à facilidade para fazer negócios, limpeza e infraestrutura.
No Índice Cidade Feliz de 2025, ela obteve altas pontuações principalmente na recém-criada métrica de Saúde, que avalia a segurança geral, iniciativas de saúde pública, como campanhas de vacinação e proteção financeira para despesas médicas.
A cidade também se destaca na categoria de Governança, uma métrica que avalia como os moradores veem políticas que aliviaram o custo de vida — um problema crescente em várias cidades ao redor do mundo.
“Apesar de Cingapura ter se tornado um lugar bem caro, um bom programa de habitação pública, junto com a valorização dos imóveis, ajudou os moradores a conquistar não apenas uma casa, mas também um ativo financeiro que pode ser usado na aposentadoria ou em emergências”, disse Hwee-Boon Yar.
Moradores também destacam como a infraestrutura da cidade torna mais fácil aproveitar a vida. “As políticas de Cingapura voltadas para espaços verdes, segurança e inclusão multicultural realmente se destacam. Você pode sair de uma reunião com um cliente no centro da cidade e, na mesma noite, comer um satay à beira-mar” afirma Samuel Huang, que tem seu próprio negócio em Cingapura.
Para visitantes, ele sugere uma caminhada pelo bairro de Tiong Bahru, “onde história, comida e design se encontram com a vida local da forma mais charmosa possível”, afirmou.
4. Aarhus, Dinamarca
Segunda maior cidade da Dinamarca, Aarhus é frequentemente chamada de “menor cidade grande do mundo”, o que contribui para a felicidade dos moradores ao combinar comodidades urbanas com senso de comunidade.
A cidade pontuou bem em todas as métricas, mas principalmente em Cidadãos, Meio Ambiente e Saúde — fatores que, segundo os moradores, tornam a vida mais fácil.
“A alegria está integrada no nosso dia a dia, não por meio da extravagância, mas por um design intencional”, afirma Carla Niña Pornelos.
“Eu me lembro de pedalar até um jantar no terraço de um prédio com a vista para o porto e pensar como a felicidade pode ser acessível quando uma cidade realmente se importa com seu bem-estar.”
Ela menciona ciclovias integradas, espaços verdes e eventos gratuitos como fatores que promovem um senso de comunidade.
A cidade também se orgulha de suas iniciativas sustentáveis, como programas de conversão de resíduos em energia, enquanto educação e saúde são acessíveis e de alta qualidade.
“Não é apenas a infraestrutura. É a sensação de que as pessoas confiam umas nas outras e nas suas intenções.”
Local de várias universidades, a cidade também tem uma energia vibrante, que se intensifica após o longo inverno dinamarquês. “Quando a primavera e o verão chegam, as pessoas saem de casa prontas para curtir os parques, nadar nas piscinas do porto ou tomar uma cerveja no canal”, conta Mathias Steen.
“Fica uma atmosfera muito calorosa e descontraída. As pessoas estão por toda a parte e a cidade fica viva”.
Para sentir a essência da cidade, Pornelos recomenda que os visitantes caminhem pela ponte Infinite ao nascer do sol.
“É um píer circular que se estende pelo mar: silencioso, surreal e emblemático da maneira dinamarquesa de integrar natureza, arte e planejamento urbano”, disse.
“Esse momento consegue capturar o que é viver aqui: equilibrado, belo e profundamente humano.”
5. Antuérpia, Bélgica
Antuérpia conseguiu superar a “irmã” Bruxelas no ranking de cidades felizes, com pontuações mais altas nas categorias de Cidadãos, Governança e Meio Ambiente.
Moradores elogiam o transporte público, a segurança e a facilidade para pedalar, além do tamanho compacto da cidade — o que torna a locomoção rápida e simples.
“Eu me mudei para Antuérpia no final dos meus 20 anos esperando uma cidade charmosa com boa comida e arquitetura bonita, mas foi a qualidade de vida aqui que me fez ficar”, disse Grace Carter.
“Você sente a eficiência no dia a dia.”
Ela também destaca que a cidade belga investe em políticas progressistas, como apoio para famílias de baixa renda, habitação social e sustentabilidade, o que torna a vida mais fácil e agradável.
“O que realmente me surpreendeu foi o quanto Antuérpia leva a sério seus espaços verdes e a vida cultural”, acrescenta.
“Desde os parques à beira do rio aos museus, é um lugar onde as pessoas conseguem genuinamente curtir a vida, e não apenas trabalhar.”
Para conhecer melhor a cidade, ela recomenda visitar o mercado de sábado na Theaterplein. “Pegue um café, ouça a conversa dos moradores e absorva aquela vibração tranquila que faz Antuérpia parecer um lar.”