Autores afirmam ter entrevistado cerca de 200 pessoas que trabalham com o ex-presidente americano. Muitas delas deram declarações de forma anônima
Um livro que será lançado no dia 20 de maio nos EUA acusa o círculo mais próximo de Joe Biden na Casa Branca de ter tentado encobrir a “deterioração física” do agora ex-presidente dos Estados Unidos durante sua fracassada campanha para reeleição.
Segundo o livro Original Sin (Pecado Original, em tradução livre), o estado de saúde de Biden durante a campanha presidencial de 2024 era tão precário que seus colaboradores chegaram a cogitar a possibilidade de colocá-lo em uma cadeira de rodas.
Falando sobre o livro, um porta-voz de Biden afirmou que “evidência de envelhecimento não é evidência de incapacidade mental” e garantiu que o democrata foi “um presidente muito eficaz”.
O livro, escrito por Jake Tapper, do canal de notícias CNN, e Alex Thompson, do site Axios, vai ser publicado no dia 20 de maio.
Biden encerrou sua campanha de forma abrupta em julho do ano passado, pouco depois de uma atuação desastrosa em um debate televisionado contra o republicano Donald Trump.
Membros do partido o culparam por abandonar a corrida eleitoral muito tarde, deixando sua substituta, a então vice-presidente Kamala Harris, com apenas 107 dias de campanha para enfrentar Trump, que venceu, com folga, as eleições presidenciais de novembro.
‘Nos prejudicou muito’
Na semana passada, antes da publicação do livro, Biden concedeu sua primeira entrevista à BBC desde que deixou a Casa Branca. Ao ser questionado sobre o que teria acontecido se tivesse deixado a corrida eleitoral mais cedo, ele declarou: “Não acho que teria feito diferença”.
Embora o livro se baseie em depoimentos anônimos de mais de 200 pessoas, um dos poucos nomes citados é o de David Plouffe, que trabalhou na campanha da vice-presidente Kamala Harris.
“Biden nos prejudicou muito como partido”, disse Plouffe no livro.
Os autores afirmam que “o sinal mais evidente da piora da saúde de Biden era seu andar trêmulo, que se tornou grave a ponto de levantar debates internos sobre a possibilidade de colocá-lo em uma cadeira de rodas, mas isso só poderia ser feito depois das eleições”.
“Dada a idade de Biden, seu médico Kevin O’Connor também comentou, em particular, que se o ex-presidente sofresse outra queda grave, poderia precisar de uma cadeira de rodas, e que a recuperação seria difícil”, diz um trecho do livro.
Segundo os autores, a condição física de Biden piorou tanto que seus assessores passaram a garantir que ele fizesse caminhadas mais curtas, usasse o corrimão para subir as escadas e usasse tênis esportivo com mais frequência.
Na época, os assessores do presidente disseram à imprensa que seu jeito de andar se devia a uma fratura no pé, sofrida em novembro de 2020, e à recusa do ex-presidente em usar uma bota ortopédica prescrita pelos médicos logo após o incidente.
Esquecendo dos aliados
“Ainda estamos esperando que alguém, quem quer que seja, aponte um momento em que Joe Biden teve que tomar uma decisão presidencial ou fazer um discurso e não conseguiu cumprir com seu dever por causa de uma questão mental”, acrescentou o porta-voz do ex-presidente.
O livro de Tapper e Thompson também afirma que Biden não reconheceu George Clooney em um evento de arrecadação de fundos para sua campanha, que aconteceu na Califórnia, em junho. O evento foi organizado pela estrela de Hollywood e estava repleto de celebridades.
“Obrigado por estar aqui”, disse Biden a Clooney durante o evento, aparentemente sem saber com quem estava falando.
“O senhor conhece o George”, teria dito um assessor a Biden, enquanto ele tentava lembrar quem era.
Pouco depois do episódio, o ator escreveu um artigo de opinião no The New York Times pedindo que Biden abandonasse a disputa.
George Clooney foi um dos primeiros grandes doadores a retirar publicamente seu apoio ao então presidente.
O livro também alega que Biden esqueceu o nome de seus assessores mais antigos, entre eles o fiel conselheiro Mike Donilon, o assessor de segurança nacional, Jake Sullivan, e a diretora de comunicações da Casa Brana, Kate Bedingfield.