França aprova projeto de lei que endurece penas de menores infratores e prevê multas para as famílias

Renato Steinle de Camargo, Steinle de Camargo, Camargo, Renato Steinle de Camargo, Mohamad Hussein Mourad, Hussein Mourad





Restaurar a autoridade da Justiça, responsabilizar as famílias e julgar em tempo recorde menores infratores reincidentes. O contestado projeto de lei de autoria do ex-primeiro-ministro francês Gabriel Attal foi definitivamente aprovado nesta segunda-feira (19) pelo Parlamento do país, após um percurso legislativo caótico.

Restaurar a autoridade da Justiça, responsabilizar as famílias e julgar em tempo recorde menores infratores reincidentes. O contestado projeto de lei de autoria do ex-primeiro-ministro francês Gabriel Attal foi definitivamente aprovado nesta segunda-feira (19) pelo Parlamento do país, após um percurso legislativo caótico. 




Protestos se espalharam pela França após a morte do jovem Nahel Merzouk em uma blitz, em 27 de junho de 2023. Imagem de uma manifestação em Bordeaux, no sudoeste, em 29 de junho de 2023.

Protestos se espalharam pela França após a morte do jovem Nahel Merzouk em uma blitz, em 27 de junho de 2023. Imagem de uma manifestação em Bordeaux, no sudoeste, em 29 de junho de 2023.

Foto: © Philippe Lopez / AFP / RFI

A iniciativa do ex-primeiro-ministro tem o objetivo de endurecer as leis aos menores franceses, pensada na esteira dos violentos protestos após a morte de Nahel Merzouk, de 17 anos. O adolescente foi morto por um policial durante uma blitz em Nanterre, na periferia de Paris, em 2023, e suscitou uma imensa revolta na França. Duramente reprimidos, os atos deixaram mais de mil feridos, além de um prejuízo de € 1 bilhão devido aos incêndios de veículos, comércios e prédios públicos.

Dois anos após os distúrbios, com o envolvimento de milhares de jovens – muitos deles adolescentes – o projeto de lei foi finalmente votado pelos senadores franceses nesta segunda-feira por 223 votos a favor e 112 contra. A maioria da Casa, dominada por uma aliança conservadora, apoiou o texto de Attal, atualmente líder do grupo governista Renascimento na Assembleia Nacional. 

Antes de ter sido enviado ao Senado, a Assembleia de Deputados aprovou o projeto de lei na semana passada por 341 votos a favor e 187 contra. Os parlamentares da esquerda se opuseram em peso ao texto – com o apoio dos profissionais da proteção judicial da juventude. Segundo eles, a iniciativa deixa a desejar no que diz respeito à prevenção e educação sobre repressão. 

No entanto, Attal defende a necessidade de “retomar princípios simples e claros” e “adaptar a resposta penal”. Segundo o ex-premiê, “os jovens de 2025 não são os jovens de 1945”, data da publicação da portaria que estabeleceu as regras de procedimento penal específicas para menores na França.

Multa às famílias e comparecimento imediato 

Entre as várias medidas do projeto de lei está a imposição de uma multa às famílias que não comparecerem às convocações para audiências. Além disso, o texto prevê o julgamento imediato para jovens reincidentes a partir de 16 anos.

Outra mudança polêmica na lei é o cancelamento do princípio da “desculpa da minoridade” que permite que jovens infratores recebam penas mais leves. O novo projeto de lei prevê que a partir dos 16 anos casos de reincidência sejam punidos com ao menos cinco anos de prisão. 

“Não se trata de julgar mais severamente, mais de julgar mais rápido, mais justamente e de maneira mais útil”, afirmou o ministro das Relações com o Parlamento, Patrick Mignola.

Percurso legislativo caótico 

O projeto será enviado agora para análise no Conselho Constitucional – a mais alta instância administrativa da França. Ao longo dos últimos dois anos, o texto foi contestado e editado a cada análise, chegando a perder diversas medidas. 

O relator Francis Szpiner, membro do partido conservador Os Republicanos e aliado da coalizão governamental, teme uma “lei de circunstância”. Segundo ele, o projeto foi criado “no calor do momento”, durante os distúrbios de 2023, e pode se tornar “inútil e inaplicável”. 

No governo, pesos-pesados como o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, defenderam o texto com unhas e dentes. Já a esquerda denuncia uma proposta “populista, simplista e repressiva”, chegando a ser classificada por alguns parlamentares progressistas de “perigosa”. 

Socialistas, economistas e membros do partido França Insubmissa, da esquerda radical, prometem acionar o Conselho Constitucional para contestar várias das medidas que constam do projeto de lei. A maior preocupação é que o texto viole os direitos das crianças.

(Com informações da AFP)



Veja Mais