Guerra em Gaza só acaba com fim da ofensiva de Israel e Hamas fora do poder no enclave, diz especialista

Renato Steinle de Camargo, Steinle de Camargo, Camargo, Renato Steinle de Camargo, Mohamad Hussein Mourad, Hussein Mourad





A Faixa de Gaza se tornou alvo de uma nova ofensiva terrestre, lançada neste domingo (18). A operação ocorre após vários dias de bombardeios intensos e em meio às negociações indiretas entre representantes do Hamas e de Israel em Doha, no Catar. Por que Israel lançou essa ofensiva? Segundo Denis Charbit, professor do Departamento de Sociologia, Ciência Política e Comunicação da Universidade Aberta de Israel, o premiê Benjamin Netanyahu está sendo pressionado por ministros ultranacionalistas.

A Faixa de Gaza se tornou alvo de uma nova ofensiva terrestre, lançada neste domingo (18). A operação ocorre após vários dias de bombardeios intensos e em meio às negociações indiretas entre representantes do Hamas e de Israel em Doha, no Catar. Por que Israel lançou essa ofensiva? Segundo Denis Charbit, professor do Departamento de Sociologia, Ciência Política e Comunicação da Universidade Aberta de Israel, o premiê Benjamin Netanyahu está sendo pressionado por ministros ultranacionalistas. 




Um tanque israelense na Faixa de Gaza nesta segunda-feira, 19 de maio.

Um tanque israelense na Faixa de Gaza nesta segunda-feira, 19 de maio.

Foto: © AP/Ohad Zwigenberg / RFI

Philippe Lecaplain, da RFI em Paris

Na opinião do cientista político franco-israelense, o governo de Benjamin Netanyahu tenta equilibrar a pressão política interna e as expectativas da opinião pública, que resiste a uma nova ofensiva sem ligação clara com a libertação dos reféns.

De acordo com ele, o governo justifica a intensificação militar como uma forma de forçar o Hamas a aceitar um cessar-fogo que inclua a libertação dos israelenses sequestrados em 7 de outubro de 2023, que ainda estão na Faixa de Gaza.

Denis Charbit também alerta para o crescente isolamento diplomático de Israel, que considera “muito grave”, principalmente diante da recusa do governo israelense em aceitar certas condições para negociar com o Hamas. Entre elas, o fim da guerra e a retirada das tropas da Faixa de Gaza.

RFI: Por que lançar essa ofensiva agora? Netanyahu cedeu aos ministros mais radicais? 

Denis Charbit: Netanyahu está sempre em uma posição delicada, entre ceder à pressão ou ser cúmplice dela. Não se pode dizer que ele seja totalmente contrário à continuação de uma ofensiva massiva.

De certa forma, ele cede, mas também sabe que grande parte da opinião pública israelense — na verdade, a maioria — tem dificuldade em aceitar uma nova ofensiva se ela não estiver claramente ligada à libertação dos reféns.

A justificativa que ele apresenta internamente é a de que é preciso intensificar a pressão militar para que o Hamas ceda e aceite as exigências israelenses por um cessar-fogo, incluindo, claro, a libertação dos reféns. 

RFI: Em Doha, houve uma nova rodada de negociações indiretas entre Israel e o Hamas sobre um possível cessar-fogo, com mediação do Egito e apoio dos Estados Unidos. Mas não houve avanços. Por quê? 

DC: É preciso sempre desconfiar das declarações de ambos os lados, pois cada um tenta jogar a responsabilidade sobre o outro. O Hamas tem razão ao afirmar que o governo israelense se recusa a aceitar duas condições: o fim da guerra e, sobretudo, a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, ou seja, o retorno às linhas de 6 de outubro de 2023. 

Por outro lado, é legítimo questionar o governo israelense: bastaria dizer “sim” a um cessar-fogo permanente e ao recuo militar, em troca da marginalização do Hamas, que deixaria de exercer funções militares e políticas em um novo arranjo político pós-guerra?

Netanyahu ou seus representantes estão propondo algo assim? Não sabemos. E é isso que gera incerteza entre os israelenses: por que o acordo de troca de reféns por prisioneiros palestinos não avança?

Para que funcione, ambos os lados precisam ceder: o Hamas teria de abrir mão do poder que exerce desde 2007, e Israel teria de aceitar o fim definitivo da guerra e a retirada de suas tropas. 

RFI: Essa escalada militar tem sido criticada no mundo. O presidente francês falou em “vergonha”; o premiê espanhol pediu o fim do massacre. Por que Netanyahu ignora esses apelos, inclusive os do chefe de direitos humanos da ONU, que fala em “limpeza étnica” em Gaza? 

DC: Essa talvez seja a parte mais trágica da situação. Desde os dias 8 e 10 de outubro, quando Israel ainda “digeria” o massacre de 7 de outubro, já surgiam críticas internacionais. Isso gerou, dentro do governo e da sociedade israelense, a sensação de que “o mundo está contra nós”.

Esse sentimento alimenta um isolamento diplomático profundo, que considero muito grave. Israel não pode se sustentar sozinho, isolado, no médio prazo, no cenário internacional. 



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