líderes religiosos contestam projeto da morte assistida, apesar do forte apoio dos franceses

Renato Steinle de Camargo, Steinle de Camargo, Camargo, Renato Steinle de Camargo, Mohamad Hussein Mourad, Hussein Mourad





Os deputados franceses deram um passo importante neste início da semana ao aprovar o artigo 2 do projeto de lei sobre o fim da vida, que estabelece um direito à ajuda para morrer. Entretanto, o debate continua sobre os critérios de elegibilidade, como a capacidade de expressar vontade livre e esclarecida, e o tipo de sofrimento – físico ou psicológico. Líderes religiosos se mobilizam contra a aprovação da lei que é desejada pela maioria dos franceses, segundo pesquisas.

Os deputados franceses deram um passo importante neste início da semana ao aprovar o artigo 2 do projeto de lei sobre o fim da vida, que estabelece um direito à ajuda para morrer. Entretanto, o debate continua sobre os critérios de elegibilidade, como a capacidade de expressar vontade livre e esclarecida, e o tipo de sofrimento – físico ou psicológico. Líderes religiosos se mobilizam contra a aprovação da lei que é desejada pela maioria dos franceses, segundo pesquisas.




Desde sua apresentação em 10 de abril de 2024, o projeto de lei sobre a morte assistida já recebeu cerca de 2.600 emendas durante os debates na Assembleia Nacional (foto).

Desde sua apresentação em 10 de abril de 2024, o projeto de lei sobre a morte assistida já recebeu cerca de 2.600 emendas durante os debates na Assembleia Nacional (foto).

Foto: AFP – LUDOVIC MARIN / RFI

A proposta, apresentada pelo deputado centrista Olivier Falorni, prevê que qualquer pessoa maior de idade, com doença grave e incurável, em fase avançada ou terminal, e com sofrimento intenso e contínuo, sem possibilidade de tratamento, poderá solicitar uma substância letal para abreviar a vida.

Uma emenda proposta pela ministra da Saúde, Catherine Vautrin, e aprovada pelos deputados, reafirma que a auto-administração da substância letal deve ser a regra, exceto quando a pessoa estiver fisicamente impossibilitada. A medida visa garantir que o ato de morrer continue sendo uma escolha pessoal e consciente. O texto original permitia que médicos ou enfermeiros administrassem a substância, mas essa possibilidade foi restringida. 

Em sua manchete nesta terça-feira (20), o jornal Le Figaro, de linha editorial conservadora, diz que a Assembleia Nacional está dividida sobre os riscos de abuso da morte induzida. “Os critérios de elegibilidade criam profundas divisões entre os parlamentares, mesmo entre aqueles que apoiam o texto”, explica o diário. “No centro das discussões: a definição da ‘fase avançada ou terminal’ do paciente, destaca o Le Figaro.

Segundo o L’Opinion, as divisões dentro da maioria presidencial refletem os cálculos eleitorais em torno dessa reforma desejada pela maioria da sociedade francesa. De maneira geral, a direita é contra o projeto de lei, mas deputados de centro também expressam dúvidas sobre alguns aspectos do projeto.

Apoio histórico da sociedade

A pesquisa mais ampla já realizada sobre o tema data de maio de 2024, quando a tramitação do projeto estava para começar, mas foi interrompida pela dissolução da Assembleia pelo presidente Emmanuel Macron. Segundo o instituto Ifop, na época, 92% dos franceses eram a favor da eutanásia quando o paciente sofre de uma doença incurável e insuportável e a solicita. Um número maior, 96%, eram a favor da legalização da eutanásia em geral.

O mesmo estudo revelou que 89% apoiavam o suicídio assistido, incluindo 52% que eram “fortemente a favor”. Esse apoio se manifestava com altas taxas em todas as tendências políticas (de 87% a 98%, dependendo do partido). O percentual de pessoas “absolutamente a favor” da eutanásia chegava a 55%, um recorde histórico na época. 

Mobilização conjunta de comunidades religiosas

Mesmo assim, a Conferência dos Responsáveis de Culto na França (CRCF), entidade que reúne os representantes das principais religiões – católicos, protestantes, ortodoxos, judeus, muçulmanos e budistas -, publicou um artigo de opinião há alguns dias denunciando o projeto de lei como uma “guinada radical” que “desfigura profundamente os fundamentos da ética médica e social”.

Os líderes religiosos afirmam que legalizar a morte assistida não é um progresso, mas uma regressão ética, social e médica. Eles denunciam o que chamam de “anestesia das consciências” por meio de uma linguagem que suaviza a gravidade moral do ato.



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