médico acusado de agredir 299 pessoas reconhece responsabilidade no suicídio de vítimas

Renato Steinle de Camargo, Steinle de Camargo, Camargo, Renato Steinle de Camargo, Mohamad Hussein Mourad, Hussein Mourad





O julgamento na França do ex-cirurgião Joël Le Scouarnec, acusado de estuprar e agredir sexualmente 299 pessoas, chega em sua reta final. Nesta terça-feira (20), o réu admitiu sua responsabilidade no suicídio de duas de suas vítimas.

O julgamento na França do ex-cirurgião Joël Le Scouarnec, acusado de estuprar e agredir sexualmente 299 pessoas, chega em sua reta final. Nesta terça-feira (20), o réu admitiu sua responsabilidade no suicídio de duas de suas vítimas.




Imagem representante o ex-cirurgião Joël Le Scouarnec durante julgamento.

Imagem representante o ex-cirurgião Joël Le Scouarnec durante julgamento.

Foto: © Benoît Peyrucq / AFP / RFI

“Eles morreram. Eu sou responsável”, disse o homem de 74 anos, depois que a presidente do tribunal de Vannes, no oeste da França, perguntou se ele “às vezes” pensa nas vítimas. Le Scouarnec se referia a dois homens cujas imagens foram mostradas no julgamento:  Mathias Vinet, que morreu de overdose em 2021 — e cuja família acredita que tenha cometido suicídio — e outro homem, que se enforcou em 2020.

O ex-cirurgião abusou sexualmente das duas vítimas no hospital de Quimperlé, na Bretanha, quando eles tinham 10 e 12 anos, respectivamente. Segundo seus familiares, o suicídio teria sido uma consequência dos traumas provocados pelas agressões sofridas durante a infância.

Condenado a 15 anos de prisão, em dezembro de 2020, pelo estupro de quatro menores, duas delas suas sobrinhas, Le Scouarnec responde neste novo processo por agressões sexuais de 158 meninos e 141 meninas. A idade média das vítimas era de 11 anos na época dos atos. 

“A prisão está sendo uma libertação para mim”, disse Le Scouarnec, que explicou no tribunal que não é mais vítima de suas “tendências” pedófilas. No entanto, ele não descartou o risco de uma recaída.

“O senhor é e sempre será um pedófilo”, retrucou Francesca Satta, uma das advogadas das vítimas, nesta terça-feira, durante as alegações finais da promotoria.

Médico teria se beneficiado de silêncio de colegas

Le Scouarnec está no radar das autoridades desde 2004, quando um relatório do FBI sobre 2.468 usuários franceses da internet que acessaram sites de pornografia infantil desencadeou uma primeira investigação judicial. O nome do médico, que residia e atuava em Lorient, no oeste da França, apareceu nas listas do FBI.

No mesmo ano, o cirurgião conseguiu ser transferido para a cidade de Quimperlé, a apenas 22 km de seu antigo local de trabalho. Segundo as investigações, cerca de 30 crianças foram estupradas ou sofreram abusos sexuais cometidos pelo médico apenas durante o período em que atuou em Quimperlé.

Em 2005, Le Scouarnec foi condenado pela primeira vez a quatro meses de prisão, com suspensão condicional da pena, por posse de pornografia infantil. No entanto, ele não foi proibido de exercer sua profissão ou obrigado a seguir um tratamento.

Desde que o processo começou, associações de defesa das vítimas denunciam a omissão dos hospitais onde o ex-cirurgião atuou e o “pacto de silêncio” de seus colegas médicos. Os casos só vieram a público em 2017, depois que ele abusou sexualmente da filha de seus vizinhos, uma menina de apenas 6 anos.

Vítimas anestesiadas

Esse caso abriu uma ‘caixa de Pandora’, pois durante as buscas na residência do médico a polícia descobriu, além de pornografia infantil, dezenas de diários nos quais ele descrevia minuciosamente seus crimes e suas vítimas. As informações encontradas revelaram que as agressões já duravam mais de duas décadas e que centenas pessoas, principalmente crianças, teriam sido abusadas por Le Scouarnec.

No decorrer de suas investigações, a polícia cruzou os nomes das crianças com os registros dos locais onde Le Scouarnec havia trabalhado e conseguiu identificar as vítimas que, na maior parte dos casos, não sabiam que haviam sido agredidas, já que estavam anestesiadas. Algumas descobriram o caso ao serem convocadas pela polícia para depor no processo.

O veredito do julgamento, que começou em 24 de fevereiro, está previsto para 28 de maio. O processo já está sendo considerado o maior caso de pedofilia da história da França, e um dos mais importantes processos de agressão sexual no país.

O julgamento acontece meses depois de outro processo que chocou a França e o mundo: o do estupro em série de Gisèle Pelicot, pelo qual 51 homens foram condenados, entre eles seu ex-marido, que a drogava e organizava os crimes.

(Com AFP)



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