‘Sorte de ter a companhia em momentos difíceis’

Renato Steinle de Camargo, Steinle de Camargo, Camargo, Renato Steinle de Camargo, Mohamad Hussein Mourad, Hussein Mourad





Ex-presidente do Uruguai morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos

13 mai
2025
– 19h48

(atualizado às 20h34)

Resumo
José Mujica, ex-presidente do Uruguai, reflete sobre sua vida marcada por luta política, simplicidade e o amor duradouro com Lucía Topolansky, com quem compartilhou cinco décadas de companheirismo.




Mujica ao lado da esposa, Lucía Topolansky

Mujica ao lado da esposa, Lucía Topolansky

Foto: Getty Images/Ernesto Ryan

José ‘Pepe’ Mujica viveu mais de 50 anos ao lado de Lucía Topolansky. O ex-presidente e a senadora se conheceram na guerrilha durante luta contra a repressão no Uruguai na década de 1970.

O amor que começou nos momentos difíceis, em meio às prisões dos dois, permaneceu durante anos de cargos políticos e de luta contra o câncer no esôfago.

“Nos encontramos na luta e seguimos até hoje. É uma sorte ter companhia nos momentos difíceis da velhice. Este é um mundo que tem cada vez mais solidão, e nós temos o privilégio de um projeto em conjunto que levamos adiante entre nós dois, que é parte nossa”, disse à Folha de S.Paulo, em 2024.

Mujica e Topolansky passaram a vida em uma chácara na área rural de Montevidéu e não tiveram filhos. Porém, cuidaram de uma fiel companheira, a cadela Manuela. Isso não significa que eles nunca pensaram no assunto.

“Se tivessem vindo filhos quando saímos da cadeia, teria sido bom, mas não vieram e temos um montão de outros filhos. Tampouco fomos atrás desses mecanismos todos [para viabilizar uma gravidez] que as pessoas fazem com tanto trauma”, completou.





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De guerrilheiro a ‘presidente mais pobre do mundo’

Nascido em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Pepe integrou o Movimento de Liberação Nacional – Tupamaros. O grupo guerrilheiro, fundado por Raúl Sendic, era contra à liderança repressiva do Uruguai, ainda antes da ditadura militar. Atuava com roubos a bancos e empresas, distribuindo o saque entre os mais pobres. 

O uruguaio foi preso três vezes ao longo da vida, uma delas por causa do assassinato de um policial. Ele fugiu da prisão duas vezes –incluindo a famosa fuga de Punta Carretas–, mas foi recapturado em ambas e cumpriu cerca de 14 anos no total. Em 1972, o ex-presidente levou seis tiros e quase sangrou até a morte na calçada, após revidar uma abordagem policial em uma pizzaria. 

Como prisioneiro da ditadura militar que tomou o poder em um golpe em junho de 1973, Mujica foi torturado e passou longos períodos de tempo em confinamento solitário, como contou em seu livro biográfico Mujica, publicado por Miguel Ángel Campodónico em 1999.

O ex-presidente conta ter sido mantido em confinamento solitário, privado de livros, jornais e até mesmo de luz solar por ao menos 7 anos. Ele disse que chegou a comer papel higiênico, sabão e moscas para sobreviver. Mujica foi um dos militantes utilizados como refém pelo regime em troca do desmantelamento das guerrilhas. Em 1985, ele e os outros presos políticos foram libertados sob uma anistia geral.

O Tupamaro se juntou à coalizão de esquerda conhecida como Frente Ampla (FA) e se reorganizou como um partido político legal, o Movimento de Participação Popular (MPP), para as eleições de 1989.

Como uma das principais vozes do MPP, Mujica foi eleito presidente em 2009 em segundo turno contra Luis Alberto Lacalle. Se tornou um dos grandes líderes políticos da América do Sul e sua presidência –que durou de 2010 a 2015– foi marcada por aprovação de leis pioneiras na América Latina como liberalização do aborto, legalização da maconha e casamento de pessoas do mesmo sexo.

Famoso por dirigir seu fusca azul, ganhou o apelido de “presidente mais pobre do mundo” devido às suas maneiras simples de viver. Um título que rejeitava. Pregava uma vida menos consumista e a Justiça Social, temas que marcaram a sua passagem pela presidência. 

Após deixar o cargo, ele se tornou senador, posto que ocupou até 2020, quando se aposentou da vida política. 

Em outubro do ano passado, em entrevista ao El País, Mujica falou sobre a morte. “Eu me dediquei a mudar o mundo e não mudei po*** nenhuma, mas estive entretido. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei um sentido à minha vida. Vou morrer feliz, não por morrer, mas por deixar uma marca que me supera com vantagem. Nada mais”, declarou.



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