Ucrânia acusa Rússia de travar negociações de cessar-fogo após telefonema entre Putin e Trump

Renato Steinle de Camargo, Steinle de Camargo, Camargo, Renato Steinle de Camargo, Mohamad Hussein Mourad, Hussein Mourad





Após duas horas de conversa entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, a Ucrânia amanheceu pessimista sobre um possível cessar-fogo nesta terça-feira (20). O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de tentar “ganhar tempo” ao paralisar as negociações e continuar os ataques na Ucrânia. Zelensky aproveitou para reiterar que continua disposto a negociar uma trégua incondicional.

20 mai
2025
– 09h42

(atualizado às 10h00)

Após duas horas de conversa entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, a Ucrânia amanheceu pessimista sobre um possível cessar-fogo nesta terça-feira (20). O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de tentar “ganhar tempo” ao paralisar as negociações e continuar os ataques na Ucrânia. Zelensky aproveitou para reiterar que continua disposto a negociar uma trégua incondicional.




O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante um briefing em Kiev, Ucrânia, na segunda-feira, 19 de maio de 2025.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante um briefing em Kiev, Ucrânia, na segunda-feira, 19 de maio de 2025.

Foto: © Efrem Lukatsky / AP / RFI

Com informações de Emmanuelle Chaze, correspondente da RFI em Kiev,e daAFP 

Até agora, nenhum cronograma foi anunciado e não há nenhuma garantia de que Moscou e Kiev chegarão a um acordo. Em um momento em que os ucranianos foram mais uma vez atingidos por um novo ataque noturno de mais de cem drones russos lançados contra todo o país, Volodymyr Zelensky reiterou a posição da Ucrânia: o país está pronto para sentar-se à mesa de negociações e negociar, seja no Vaticano, na Turquia ou em qualquer outro lugar.

“Está claro que a Rússia está tentando ganhar tempo para continuar sua guerra e ocupação”, denunciou ele nesta terça-feira, descrevendo as condições de Moscou como ‘irrealistas’.

Zelensky ainda alertou que, constitucionalmente, como presidente da Ucrânia, é impossível para ele aceitar a perda do território ucraniano ou retirar as tropas ucranianas das cinco regiões que estão parcial ou totalmente ocupadas ilegalmente pela Rússia – a península da Crimeia e as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia.

Não apenas porque esses territórios pertencem à Ucrânia, de acordo com a Constituição do país e o direito internacional, mas também porque milhões de ucranianos ainda vivem lá, apesar da invasão russa. Além disso, movimentos populacionais também estão ocorrendo lá, incluindo a deportação de crianças ucranianas para a Rússia.

Na frente humanitária, Volodymyr Zelensky disse que, durante sua própria conversa telefônica com o presidente Donald Trump, mencionou a troca de mil prisioneiros de guerra negociada em Istambul em 16 de maio. Embora o presidente ucraniano tenha dialogado duas vezes com o líder republicano – antes e depois do telefonema com Vladimir Putin – o chefe da Casa Branca continua afirmando que ainda não sabe se a Ucrânia está pronta para negociações.

Apesar da ausência de qualquer avanço importante, Donald Trump, que está pressionando a Rússia e a Ucrânia a silenciarem suas armas, gabou-se de que os dois líderes em conflito “iniciariam imediatamente as negociações” com a perspectiva de uma trégua.

Comunidade internacional reage ao telefonema entre Trump e Putin

Enquanto os ministros da Defesa da União Europeia se reúnem em Bruxelas nesta terça-feira, a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, disse que o bloco espera uma “forte reação” de Washington se Moscou continuar a recusar uma trégua na Ucrânia. “Os Estados Unidos disseram que, se a Rússia não aceitar um cessar-fogo incondicional, haverá consequências. Portanto, queremos ver essas consequências”, declarou ela pouco antes do início da reunião.

Para a Alemanha, a conversa telefônica russo-americana mostrou que Vladimir Putin “não está pronto para concessões” sobre a Ucrânia. Ao chegar para a reunião em Bruxelas, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse que o presidente russo “só está falando sobre um cessar-fogo em seus termos”.

De acordo com Berlim, os principais aliados europeus da Ucrânia concordaram em “aumentar a pressão” sobre Moscou, intensificando as sanções. 

Nesta terça-feira, a União Europeia adotou novas medidas contra a Rússia, visando novos petroleiros “fantasmas” usados para contornar as sanções existentes contra as exportações de petróleo russas, anunciou a chefe da diplomacia europeia Kaja Kallas. 

“A UE aprovou seu 17º pacote de sanções contra a Rússia, que tem como alvo cerca de 200 navios de sua frota fantasma”, escreveu ela no X, à margem da reunião dos ministros da Defesa da UE em Bruxelas. “Outras sanções contra a Rússia estão sendo preparadas. Quanto mais a Rússia insistir na guerra, mais dura será nossa resposta”, acrescentou. 

Um 18º pacote já em discussão inclui, em particular, “sanções sobre o Nord Stream 1 e o Nord Stream 2”, como apontou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na semana passada.

Pequim, por sua vez, expressou seu apoio ao “diálogo direto” entre Moscou e Kiev, após o anúncio de Donald Trump sobre o início “imediato” de negociações entre os dois países para um cessar-fogo. “A China apoia todos os esforços para restaurar a paz”, disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira. “Apoiamos o diálogo direto e as negociações entre a Rússia e a Ucrânia, bem como uma solução política para a crise”, enfatizou.

Incertezas no ar

Na última sexta-feira (16), as delegações russa e ucraniana, reunidas sob mediação turca em Istambul, indicaram que cada lado “apresentaria” em breve sua “visão” para uma possível trégua, nas palavras do negociador russo, Vladimir Medinski.

Mas está claro que há duas abordagens opostas: Kiev está pedindo um cessar-fogo “incondicional” de 30 dias para permitir a realização de negociações de paz, enquanto Moscou supõe que os diálogos devem ocorrer “simultaneamente” aos combates, de acordo com Medinski.

Vladimir Putin acredita que uma trégua dará tempo ao exército ucraniano para se rearmar graças à ajuda militar ocidental dos aliados ocidentais de Kiev.



Veja Mais